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O que esperar ou o que fazer em 2024 na Saúde?




Saúde é um setor peculiar. Os serviços de saúde, por exemplo, têm, entre outros objetivos, a manutenção da vida, a cura, a busca de diagnósticos precisos, tratamentos muitas vezes longos, a reabilitação, o conforto do retorno ao lar ou mesmo a busca pela finitude da vida sem dor, ou com o melhor bem-estar possível. Esse círculo de cuidados mexe com o emocional e até com o espiritual das pessoas, pois envolve dor, amor, perdas, medo, emoções de familiares e amigos – além do paciente, enfim, uma gama de sentimentos que exige de gestores e profissionais não só conhecimento e capacidade técnica, mas uma boa dose de inteligência emocional para conciliar melhor a vida profissional com a pessoal.


É inquestionável que saúde é algo precioso para o ser humano. Nesse sentido, ela não tem preço, mas tem custo. O valor da saúde é imensurável, mas o custo assistencial não. Essa equação de difícil desfecho enfrenta desafios que passam pelo financiamento e por modelos adequados de remuneração. A saúde movimenta por ano no Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2022 esse percentual atingiu a cifra de R$ 690 bilhões, incluindo investimentos públicos das três esferas de governo (União, Estados e Municípios), do setor privado e despesas diretas das famílias.


O sistema de saúde brasileiro, o Sistema Único de Saúde (SUS), está fundamentado nos pilares da universalização, equidade e integralidade. Em um país onde apenas 24% da população possui cobertura da saúde suplementar, através das operadoras de planos de saúde, era de se esperar que o investimento público fosse maior que o privado, para fazer valer os preceitos constitucionais do SUS. Mas não é o que ocorre. Dos 9,2% que a saúde movimenta do PIB, o setor público fica com a menor fatia: 3,9% do PIB (R$ 292,5 bilhões), contra 5,3% do setor privado e famílias (R$ 397,5 bi). Financiamento, portanto, é um tema que precisa ser abordado e revisitado com frequência.


Paralelamente, o atual modelo de remuneração vigente no setor suplementar, o fee for service, privilegia a produção, o volume, em detrimento da qualidade e do bom desfecho clínico. Em 2022, a receita das contraprestações pecuniárias das operadoras de planos de saúde atingiu R$ 217 bilhões (para 24% da população coberta), enquanto o orçamento do Ministério da Saúde foi de RS 187 bi para atender toda população brasileira. Há discrepâncias nas duas pontas, obviamente, relatadas em artigo dessa obra.


Os custos crescentes da saúde, somados ao avanço tecnológico, o envelhecimento populacional e a mudança no perfil epidemiológico, têm pressionado sistemas de todo o mundo – no Brasil, inclusive – a mudar a abordagem assistencial meramente curativa para outra, pautada na promoção e prevenção.


Essa mudança de foco assistencial ocorre em momento oportuno, pois o aumento da expectativa de vida sinaliza que maior número de pessoas está vivendo com uma ou mais doenças crônicas e isso exige, além de cuidados contínuos, uma mudança de comportamento. Viver mais é uma das maiores conquistas da humanidade e foi possível, principalmente, pela melhoria do saneamento básico, tratamento da água, educação e o avanço científico, com antibióticos, vacinas e outros fármacos. É por isso que políticas públicas voltadas a esses setores, incluindo também segurança pública, moradia e crescimento econômico, impactam positivamente nos indicadores de saúde.


Como tudo tem dois lados – ou mais, o aumento da expectativa de vida também traz enorme pressão sobre as contas públicas, pois ao mesmo tempo que o mundo envelhece, as taxas de natalidade caem. Isso é um verdadeiro pesadelo para os sistemas de previdência. Há 60 anos, casais brasileiros tinham, em média, 6,3 filhos. Hoje, a média é de 1,7. A França levou 115 anos para dobrar sua população de idosos. O Brasil levará apenas 19 anos. Mas, se os orçamentos públicos são impactados pelo envelhecimento, a economia da longevidade, ou economia prateada, que nada mais é do que a soma de todas as atividades econômicas produzidas por quem tem mais de 50 anos, movimentou só nos EUA, em 2018, cerca de 40% do PIB do país, ou US$ 8,3 trilhões. Isso, naturalmente, abre enormes perspectivas de negócios e iniciativas inovadoras. Entre elas, a saúde digital.


Como doença crônica não tem cura, a saúde do idoso busca a estabilização do quadro, o monitoramento e a manutenção das habilidades funcionais, que garantem a qualidade de vida. Ferramentas de inovação e conectividade podem – e devem – ser usadas para estes fins. Mas, obviamente, a digitalização da saúde tem capacidade de ir além, com ganhos expressivos para toda a cadeia econômica e produtiva. A incorporação de tecnologias digitais pode ajudar na tomada de decisão clínica, baseando as intervenções em evidências científicas; melhorar a qualidade assistencial e é peça-chave para a gestão do sistema de saúde e do cuidado integral ao paciente.


Termos e conceitos que antes circulavam apenas entre profissionais e em áreas restritas ao setor de tecnologia da informação, hoje são usuais, como 5G, inteligência artificial e internet das coisas. Iniciativas recentes no país dão sinais da dimensão de inovação e transformação que a saúde digital pode proporcionar para todo o segmento. É preciso estabelecer padrões de conexão entre os múltiplos sistemas existentes hoje no Brasil para que dados possam gerar informações; informações possam medir processos administrativos e assistenciais; e essas medições possam garantir as melhores decisões para o paciente, a organização e todo o sistema de saúde.


Atuamos em um setor pujante, que nos desafia diariamente. E muitos nos observam além de nossas fronteiras. Pelas dimensões territoriais, infraestrutura, qualidade dos profissionais, universidades e uma indústria com grande potencial inovador, o Brasil tem sido, há alguns anos, destino de investimentos externos – e internos – expressivos. Para mensurar esse fenômeno, apenas nos anos de 2019 e 2020 foram realizadas 133 operações de fusão e aquisição na área da saúde em território nacional, que movimentaram bilhões de reais.


O mercado


Apesar do mercado de planos de saúde ter encerrado 2022 com um prejuízo operacional (que não considera os ganhos financeiros) de R$ 11,5 bilhões, um resultado 12,5 vezes pior do que o registrado em 2021, ao ano de 2023, com a oferta de planos privados regionais, ganhos de eficiência e negociações com fornecedores para enfrentar aumento de custos, encerrando o 3º Trimestre de 2023 com resultado R$ 3,13 bilhões.


Seguindo a dinâmica já observada em 2022, as operadoras médico-hospitalares fecharam o 3º Trimestre com resultado operacional negativo de R$ 5,12 bilhões. Esse prejuízo operacional foi compensado pelo resultado financeiro de R$ 8,4 bilhões advindo principalmente da remuneração das suas aplicações financeiras, que acumularam ao final do período quase R$ 109,2 bilhões, que são ativos garantidores da operação na saúde suplementar.


O principal aspecto que explica o desempenho nas operadoras médico-hospitalares do setor continua sendo a sinistralidade, que fechou o 3º Trimestre em 86,6% (cerca de 2% p.p. abaixo daquela apurada no mesmo período do ano anterior). Por outro lado, o percentual de glosa final das operadoras médico-hospitalares aumentou 1,1% do primeiro semestre de 2022 para o primeiro semestre de 2023, de 6,41% para 7,52%.


Carecemos ainda de informações assistenciais de 2023, ainda não divulgados pela ANS, mas temos a retomada da produção assistencial ano após ano, e 2023 não será diferente, ou seja, retomaremos o patamar de aproximadamente 6 consultas por beneficiário/ano, iremos superar os 3,6 procedimentos ambulatoriais por beneficiário/ano, iremos bater o recorde de exames por beneficiário/ano, acima de 22,2, bem como teremos aumento do número de internações por beneficiários.

 

O que esperar de 2024?


É sabido que o mercado da saúde suplementar vem passando por uma crise sem precedente, e não podemos negar ou fingir que nada está acontecendo, pois os números demonstram, quando interpretados, preocupações. O cenário ainda demanda tratamento, atitudes e ações imediatas.


Assim é necessário transformações em 2024, pois o futuro é certo se mantivermos o status quo. Vamos agir ou vamos esperar por um milagre?


Mas a pergunta certa não é o que esperar em 2024, mas sim o que fazer em 2024!


Neste espírito iniciaremos uma jornada de reflexões para gerar ações para líderes da saúde brasileira para vislumbrarmos um futuro sustentável para a saúde suplementar brasileira. Iremos trazer reflexões, informações, dados, cases de sucesso e de insucesso, muitas opiniões e discussões para que cada um possa buscar ações individuais para alcançarmos o coletivo para garantirmos uma saúde segura, com qualidade e que se sustente no curto, médio e longo prazo.


Mergulharemos em alguns temas, que não se esgotam, dentre eles:

·      Atendimento primário da saúde e medicina da família;

·      Iniciativas e boas práticas de transição de cuidados em diferentes níveis assistenciais;

·      Complexo econômico-industrial da saúde e os desafios da gestão das políticas de desenvolvimento do setor de saúde no país;

·      O financiamento da saúde;

·      Modelos de remuneração;

·      Desafios da qualidade na prestação de serviços de saúde;

·      A experiência do paciente;

·      Modelo assistencial contemporâneo para idosos: impactos e soluções;

·      A economia da longevidade e as oportunidades na saúde;

·      Marketing em Saúde;

·      Liderança e Saúde;

·      Tecnologia, sistemas de informação e inovações disruptivas;

·      Fusões e aquisições no mercado de saúde brasileiro;

·      Diversidade e ESG na Saúde;

·      O futuro dos Hospitais;

·      Gestão de saúde populacional;

·      Ecossistema da Saúde;

·      Gestão compartilhada publica e privada.

 

 Bora? 

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